O TRENZINHO DO CAIPIRA – NOVO OLHAR
Estudo da personagem Domitila por Denize de Lucena
ORIGEM DO NOME :
DOMITILA vem do latim, uma variação de Dimícia que significa AQUELA QUE AMA A CASA.
O QUE O TEXTO DIZ?
A Personagem DOMITILA representa o nordeste brasileiro e a nota “dó” da escala musical.
As personagens são acordadas por suas respectivas notas. Todas receberam uma misteriosa carta e se preparam para viajar, mas perdem o trem, ficam tristes e, desoladas, começam a contar suas histórias.
DOMITILA não é uma pessoa de idade avançada, mas parece alguém confiável.
É alguém que busca soluções, não se entrega frente às adversidades da vida.
O QUE A PERSONAGEM DIZ?
Seu nome é DOMITILA, e seu apelido é “Dó”. Veio do Sertão e procura um caminho pelo sentimento.
Andou pelo mundo, presta atenção em tudo, tendo forte relação com a natureza.
Não conhece as letras, mas conhece do mundo e das gentes porque sempre foi muito curiosa e observadora.
Conhece as cirandas e precisa levar seus conhecimentos às crianças do mundo.
RELAÇÕES ENTRE AS PERSONAGENS
A personagem DOMITILA propõe a criação do trem, conduzindo o início da trama, assim como o “dó” inicia a escala musical e a afinação.
A personagem SOLEMAR propõe a DOMITILA um giro pelo Brasil para conhecer o seu folclore, como a “clave de Sol” que encabeça o pentagrama.
REMIR é o parceiro de DOMITILA por ser rezador e também ter origem sertaneja. Na escala musical, também a nota “ré” está ao lado da nota “dó”.
DA DRAMATURGIA
DOMITILA recebe uma carta de Villa Lobos que a convida para “a missão de deixar a ciranda viva na brincadeira das crianças”. DOMITILA aceita o convite e embarca para uma viagem de trem que irá levá-la para cumprir sua missão. Na estação, vê o trem passar e descobre que há outras pessoas que também receberam cartas de Villa Lobos.
Negando-se a se acomodar com a partida do trem, DOMITILA propõe a criação de um trem que possa levar as personagens ao seu destino. Na construção desse trem da vida, resgata a ciranda da infância, os sons de sua meninice e a alegria de viver, costurando lembranças e sentimentos na companhia dos novos amigos, todos reunidos pela batuta do maestro Villa Lobos, que sem apresentar-se, vai tecendo sonoramente os trilhos da trama até a estação final, onde as personagens entendem que é necessário partilhar de suas descobertas com todas as crianças do mundo, num REENCANTAMENTO DA INFÂNCIA.
REFERÊNCIAS PARA CONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM
A artista plástica, artesã e poetisa mineira, residente em Curitiba, EFIGÊNIA ROLIN.
http://www.artcanal.com.br/oscardambrosio/efigeniarolim.htm
O artista popular e artesão arquitetônico carioca GABRIEL JOAQUIM DOS SANTOS.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gabriel_Joaquim_dos_Santos
O artista plástico sergipano ARTUR BISPO DO ROSÁRIO.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bispo_do_Ros%C3%A1rio
O músico alemão radicalizado brasileiro, foi professor da UFBA, em Salvador, ANTON WALTER SMETAK.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anton_Walter_Smetak
O texto A TERCEIRA MARGEM DO RIO, de GUIMARÃES ROSA
http://www.releituras.com/guimarosa_margem.asp
A introdução do texto MORTE E VIDA SEVERINA, de JOÃO CABRAL DE MELO NETO
http://www.culturabrasil.org/joaocabraldemelonetoo.htm
A música ASSUM PRETO, de LUIZ GONZAGA e HUMBERTO TEIXEIRA
http://www.youtube.com/watch?v=BdtIwxlGPSs
http://www.ladjanebandeira.org/cultura-pernambuco/pub/a2006n05.pdf
GÊNESE A PARTIR DO ESTUDO DO TEXTO E REFERENCIAIS
A personagem DOMITILA é de algum lugar do nordeste brasileiro, não é necessário especificar porque ela representa toda a região com suas crenças, sua cultura e saberes.
Quando pequena, perdeu o pai, Seu Chico, de quem só guarda a lembrança em uma foto desbotada. Foi criada pela Vó Donana e a Mãe Zabé. Era a mais velha de cinco filhos: Jão, Tonica, Tiãozinho (falecidos) e Maria Rita (casou-se e mudou para a cidade de São Paulo. Nunca mais deu notícia.).
Donana era parteira e DOMITILA a acompanhava em visita pelas casas da região, ajudando a avó. Assim, aprendeu sobre as ervas e muito sobre as pessoas, pois ficava a observar tudo, ouvindo e perguntando.
Zabé cuidava do pequeno roçado de chão onde moravam, cultivando um roçado e os poucos animais que ajudavam no sustento da família. Levantava antes do sol e ia se deitar depois de todo mundo. O tempo todo ativa, cantava para espantar a tristeza e aliviar o sofrimento. Seu repertório ia das músicas das novenas para N. Sra. das Dô, que puxava com as mulheres em dia de reza, de nascimento e de velório, as cantigas de trabalho que aprendeu com o pai no roçado, e as cantigas de roda, principalmente as cirandas, que aprendeu ouvindo as crianças do grupo escolar.
Depois que Donana e Zabé partiram, DOMITILA que já assumira o afazer da avó, caminhava de vilarejo em vilarejo, prestando auxílio aos que precisavam.
É devota de N. Sra. das Dô, principalmente por ser a morte tão comum, mesmo dos “anjinhos” a quem N. Sra. recebe em seu regaço e o consolo que perta às mãezinhas que perderam seus filhos, assim como ela. Também conhecida por N. Sra da Piedade, da Soledade, das Angústias, das Lágrimas, das Sete Dores e do Calvário. É padroeira de várias cidades brasileiras como Candibas/BA, Guaxupé/MG, Teresina/PI e Marilândia do Sul/PR dentre vários outros.
DOMITILA nunca aprendeu as letras, mas conhece muito da sabedoria do povo e das escritas de Deus, na sabedoria da natureza.
Vive de canto em canto, de feira em feira, cantando e contando histórias. Como não tem parada, diz que vive cirandando: -- “O mundo é que nem numa ciranda... que a gente não pode Pará.”
Um dia teve um sonho lindo: Estava toda enfeitada, como em dia de festa no arraiá. E muito, muito feliz, dançava ciranda com muitas crianças, também felizes a cantar. De repente, ouviu um som comprido e doce... parou de rodar.
Ouviu de novo o mesmo som, as crianças então ficaram tristes...
Ouviu-se novamente o som... era o som de uma rabeca, uma nota só era tocada de maneira chorosa, qual se fosse um lamento...
De repente as crianças sumiram e tudo se fez silêncio... então percebeu um sonzinho abafado que vinha de algum lugar. Procurou e descobriu que vinha do seu embornal. Pegou-o e quando abriu viu luzes coloridas que saindo de dentro dele faziam evoluções no ar, desenhando formas, em linhas coloridas.
Sem precisar de onde, ouviu as vozes das crianças: --“Tia, vem brincar de ciranda com a gente?”...
Acordou... ainda guardava aquelas palavras na mente quando ouviu seu Natanael chamar. Ele era coroinha de padre Inácio e trazia uma carta que chegara para ela.
DOMITILA muito cismada, pediu que ele lesse a carta:
Senhora Maria Domitila de Santana,
Tomei conhecimento de que a senhora conhece
muitas cantigas de ciranda e brincadeiras.
Infelizmente, as crianças deste nosso Brasil desaprenderam
as brincadeiras sadias e contagiantes, simples e empolgantes,
e permanecem indefinidamente sentadas frente a uma
caixa mágica de luzes e movimentos que as hipnotiza,
impedindo que brinquem, cantem, dancem e sejam
crianças felizes.
Segue uma passagem de trem para que venha ter conosco.
Estamos reunindo um pequeno grupo de amigos
para resgatar a valorosa cultura do nosso país.
Rogo-lhe esse pedido, ao tempo que lhe confiro esta missão:
Deixe viva a ciranda na brincadeira das crianças.
Ajude-nos a reencantá-las.
Afetuosamente,
Villa Lobos
Maestro
QUADRINHAS DE DOMITILA
Com Vó Donana aprendi os segredos das folhas
O canto pra mó d’ispantá tristeza, Mãe Zabé me insinô
Minha graça é Domitila, cirandeio, sem apeá, eu vou
Minha casa hoje é o mundo sob o manto de N. Sra. da Dô
Minha graça é Domitila
Cirandeio sem pará
Minha casa é o mundo
E o coraçã é meu quintá